O sol fez questão de se exibir pela janela do meu quarto, me lembrando que meu primeiro dia de aula começava ali, eu não estava pronta psicologicamente para tudo começar de novo, aquele chato círculo vicioso de vida escolar, mas eu não tinha muita opção. Me levantei, me arrumei e as 6:50 estava pronta esperando o transporte chegar.

Quando entrei no carro tudo que queria era voltar a minha casa e dormir, todavia, o portão do colégio apareceu na minha visão e sufocou minhas vontades. E pela décima vez eu era aluna nova no primeiro dia, você deve estar imaginado que já estou acostumada, mas te garanto não tem como se acostumar, ao menos uma coisa me alegrava, estava entrando no segundo ano do ensino médio, mais um ano e sem novas escolas, sem mudanças, sem perder amigos, sabe como é chegar aos 16 e não poder dizer que tive uma amizade de mais de dois anos? Muito chato só para constar.

Enfim, ao adentrar os portões do Colégio Atena, respirei fundo e disse a mim mesma: ‘é só mais um dia comum com desconhecidos que podem vir a ser seus amigos, mas não se apegue muito, você vai se mudar, boa sorte’. Minha sala era a segunda sala do terceiro andar, a sala estava meio cheia, me sentei no meio e fiquei lá sozinha, olhando para a porta esperando o professor entrar logo e passar da fase “ oi, de onde você é? ” Ao meu redor tinha vários grupinhos, que provavelmente já eram da escola e outras 5 pessoas isoladas com eu, pelo menos eu não era a única.

Depois da quinta vez consecutiva mudando de escola, me acostumei a não formar laços de verdade, a evitar deixar as pessoas se aproximarem de mim, não queria ficar super triste quando me mudasse novamente, mas quando mais velha eu ficava mais isso era difícil, principalmente quando as paixões apareceram e quando uma delas virou amor, para minha segurança mental havia prometido não me apaixonar novamente até saber que não me mudaria mais.

Mas sabe quando sua adrenalina sobe, seu coração descobre um ritmo desenfreado e seus olhos encontram aquele par de olhos castanhos alucinadamente apaixonantes? Foi isso que aconteceu, um garoto de seus um metro e setenta entrou na sala, com um cabelo um pouco desgrenhando, um olhar castanho que MINHA NOSSA e um sorriso que a NASA consideraria perigoso para o bom funcionamento da minha mente. Ele não era aquele garoto capa de revista Capricho, mas algo dele despertou curiosidade (se é que se pode chamar assim) em mim.

Ele foi recebido por abraços de uns meninos num grupo ao fundo das salas e de umas meninas sentadas ao lado, ele veio para o meio e sentou ao meu lado, abriu um grande sorriso e foi o primeiro a falar de verdade comigo.

--Olá, meu nome é Miguel e o seu?

--Oi, o meu é Agatha.

--Belo nome, então Agatha, de onde você é?

--Bem, acabei de me mudar para cá, mas sou de Manaus.

--Uma cidade muito linda, meus avós são de lá, fica maravilhosa no natal.

--Não fiquei lá até o natal, o que pelo jeito foi uma pena.

--Se muda muito?

--Pode se dizer que sim...—Salva de continuar minha história pelo professor que chegou dando um alto bom dia.

O Miguel sorriu para mim percebendo que nossa conversa teria de acabar. Os que já eram do colégio pareciam gostar daquele professor, já que fizeram questão de ir lá falar com ele ou mandar um high five a distância, descobri que ele se chamava Magno e ensinava Química. Depois do momento que perguntou para mim e para os outros cinco nossos nomes e qual nossa escola anterior, ele começou a copiar no quadro e um faladeiro começou na sala e o Miguel pegou a deixa para voltar a conversar comigo.

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